Viradouro e Grande Rio surpreendem. União da Ilha desaponta.
A primeira noite de desfiles da elite do carnaval carioca foi aguardada com muita expectativa. Grandes escolas e seus sambas, alguns considerados como os melhores do ano, se apresentaram. Podemos dizer que tenha sido o domingo mais forte dos últimos carnavais. Viradouro, Portela e Grande Rio podem quebrar a regra de que a campeã só sai da segunda-feira. Será?
Abrindo a noite, a Estácio de Sá festejou os 50 anos de carreira da sua carnavalesca, Rosa Magalhães, que desenvolveu o enredo “Pedra”.Na luta para permanecer no Grupo, a Estácio apostou numa veterana da Avenida. O início da escola estava impactante, apesar da simplicidade das alegorias. A aposta ficou mais pela criatividade do que pelo luxo, criando um visual homogêneo. Fantasias bem elaboradas e bem acabadas, com bom uso da cor e materiais, marca registrada de Rosa. Bateria impecável. Evolução e Harmonia irregulares, podem custar alguns décimos preciosos à escola.
A vice-campeã de 2019, Unidos do Viradouro, se vestiu de ouro, sem poupar luxo e suntuosidade, para conquistar o título de 2020. A escola veio “mordida” e com gana de vitória. Samba-enredo contagiante, alegorias e fantasias luxuosíssimas e componentes com o canto afinado, a vermelha e branca de Niterói deu um banho na Sapucaí.A comissão de frente foi um capítulo à parte. Ovacionada pelo público, a apresentação das zungueiras lavadeiras foi emocionante.Esbanjando luxo, a escola trouxe o máximo de alegorias permitidas pelo Regulamento: 6 alegorias e 3 tripés.As fantasias apresentaram um trabalho plástico deslumbrante, com materiais diversificados e primoroso acabamento.Mestre Ciça, mais uma vez, coloca a Sapucaí abaixo com sua bateria, ajudando no crescimento do samba.Extremamente bem organizada, a escola teve excelência em Harmonia e Evolução.Viradouro se consolida como postulante ao título de 2020.
Campeã de 2019, a Mangueira veio em busca do bi. Com um enredo polêmico, onde propôs representar todas as faces de Cristo, teve muitos problemas durante seu pré carnaval. Alguns setores da sociedade afirmavam que a escola iria “debochar de Jesus”, o que foi exaustivamente desmentido pelo carnavalesco Leandro Vieira e a diretoria da escola.Apesar de toda a expectativa, a escola se apresentou um tanto quanto fria, e o público percebeu isso. Alegorias primorosas, bem acabadas, com um constante uso do dourado, mostrava imponência. Fantasias luxuosas e de bom gosto, plástica impecável. Alas muito cheias, mas que não comprometeu. A bateria foi talvez o ponto alto do desfile.O canto baixo da escola talvez comprometa a Harmonia, além de pouca Evolução.
Com o enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião”, de João Vitor Araújo, a quarta escola, Tuiuti, fez um desfile fraco.Ponto alto para a parte plástica da escola. Fantasias e alegorias de bom gosto. O trabalho caprichoso do carnavalesco foi de encher os olhos. No entanto, a escola passou fria, apesar da excelência de sua bateria e seu carro de som. Problemas em Harmonia e Evolução podem fazer a escola ficar bem distante do “Paraíso”…
A Grande Rio, quinta escola da noite, fez um retorno às suas origens e apresentou um enredo afro, depois de 26 anos fora desta temática.Com o enredo “Tatalondirá. O canto do caboclo no quilombo de Caxias” a tricolor de Caxias contou a história de Joãozinho da Gomeia, líder religioso, negro e homossexual, que superou todos os preconceitos, em defesa da liberdade religiosa.O excelente enredo foi desenvolvido pela dupla estreante no Especial, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, com excelência. O alto nível de criação e composição do trabalho foi de ficar boquiaberto. Fantasias e alegorias de fácil entendimento, dentro do enredo e de concepção limpa, criaram um conjunto homogêneo.O samba e a bateria tiveram um casamento perfeito. A excelente atuação de Evandro Malandro ao microfone e a deliciosa cadência da Invocada, comandada por Mestre Fafá, fizeram a escola flutuar na Avenida.Erros na Harmonia (muitos convidados com camisas nas laterais) e Evolução (buraco na entrada do desfile e carros que ficaram desgovernados) podem ser uma pedra no caminho da Grande Rio rumo à vitória.
A União da Ilha do Governador foi a penúltima escola a entrar na Marquês de Sapucaí.A escola alegre e brincalhona deu lugar à uma escola tensa e nervosa, desde o início. Pouco carnavalizada e mais realista, a escola apresentou um enredo que levava a uma reflexão sobre os principais problemas que afetam a sociedade, notadamente a camada mais pobre da população, instalada nas comunidades da periferia.O abre-alas foi impactante. Uma imensa favela, muito bem construída, nos mínimos detalhes, becos, vielas, barracos habitados com personagens bem característicos. No entanto, o que se viu depois não estava à altura. Cores muito escuras, cinza, preto, tons terrosos, deixou uma plástica muito pra baixo. As fantasias, apesar de pertinentes ao enredo, não tinham volume. A plástica foi regular. Destaque para o trabalho de espuma nas fantasias.A bateria fez uma excelente apresentação, sustentou o desfile, mesmo com o grave problema de Evolução, quando a alegoria quebrou no meio do desfile, abrindo um buraco de quase 2 setores da Sapucaí. A ala de tamborins da escola deu um show.A Harmonia foi um dos pontos altos do desfile. Apesar de considerarem um dos sambas mais fracos do ano, os componentes levaram no gogó.O quesito Evolução talvez seja o grande vilão deste desfile da querida União da Ilha. O buraco criado pela alegoria quebrada fez com que a escola ficasse parada por muito tempo, alas acabaram se embolando, e ainda tiveram que correr contra o tempo, o que não foi suficiente, pois a escola acabou estourando em 1 minuto o tempo limite.Lamentavelmente, a apuração promete ser tensa para a tricolor insulana, que corre sérios riscos de rebaixamento.
Com muita animação, a última escola a desfilar, a Portela, entrou na Avenida.Um desfile de plástica impecável, visual limpo e cores bem usadas. Excelente nível de fantasias e alegorias, que mantiveram um perfeito diálogo com o enredo.O enredo, que falou dos primeiros habitantes do Rio de Janeiro, os Tupinambás, foi desenvolvido com muita categoria pelo casal Renato Lage e Márcia Lage, provando que “os opostos de atraem”. O casamento entre o moderno e o tradicional deu super certo.A bateria, com bossas com toques indígenas, foi um dos pontos altos do desfile, que contou com um samba bem cadenciado.Cantando bastante e com alas compactas e andamento perfeito, a Harmonia e Evolução foram cumpridas com excelência.Portela fechou o primeiro dia com chave de ouro, já com dia claro, e está sim, apta a disputar o título.